Ontem a noite fomos jantar com dois casais de amigos e mais um amigo muito querido. Fomos ao Artorito - fica a dica para quem não conhece. (
http://arturito.com.br/).
O restaurante é uma delícia, tem um ambiente super gostoso. Quando chegamos duas garrafas de vinho vazias já estavam sobre a mesa. (chegamos mais tarde porque fomos assistir Wall Street - recomendo!).
Como sempre, homens para um lado e mulheres para outro. Cada grupo com seu papo. (detesto essa segregação dos sexos, mas isso é um ritual dessa turma. É assim que funciona). Sentei com as meninas e o papo estava ótimo: trabalho, viagens, moda, etc... até que uma delas, como de hábito, tocou no assunto do qual eu tenho tentado fugir: Emagrecer.
Segue uma
atualização sobre "as personagens".
EU: neurótica com magreza. Nunca fui magra, salvo uma época da minha vida que por motivo de depressão eu não comia absolutamente nada. Essa fase ficou para mim como meu ideal de corpo. Nem uma gordurinha sequer, passava vontade 100% do dia, até mosca eu tinha vontade de comer e não sei como, eu consegui ignorar toda e qualquer vontade. Todas as minhas roupas estavam largas e a único conforto do dia era me olhar no espelho e ver que eu tinha emagrecido e continuava emagrecendo...
Hoje, não sou gorda, tenho um peso normal para minha idade e tamanho e sofro loucamente com isso. Eu não quero ter um peso NORMAL, eu quero ser MUITO MAGRA. Penso que estou engordando 90% do tempo, é um mal que me acompanha. Qualquer coisa que eu coma, eu penso no ponteiro da balança movendo para a direita. Qualquer dia eu não faça exercício físico, penso no meu peso aumentando. Gasto um bom tempo lendo sobre regimes, dietas, e vendo fotos das modelos que eu mais admiro: Heidi Klum, Alessandra Ambrósio, Fernanda Lima, Yasmim Brunet - como que elas conseguem ser tão magras??? Tudo bem que existe um lance de genética e de constituição física, mas para ser magra desse jeito, tem que haver muito mais coisa do que a sorte de se ter um bom metabolismo e uma boa genética. Fato é que eu tenho ido me tratar (psicóloga mesmo). Esse assunto é tão complicado e dolorido para mim que depois de quase três anos de tratamento eu consegui falar abertamente com ela sobre o tema. . Desde que eu comecei a conversar com a minha pscioterapeuta sobre isso, de uma certa forma, as coisas ficaram mais "light". Acho que estou melhorando paulatinamente. Eu encaro essa obsessão por magreza como uma dependência, se alguém vem perto de mim e toca no assunto, é como se uma onda enorme trouxesse todos os pensamentos e sentimentos de volta .... é como se eu estivesse no meio do mar e não conseguisse sair dessa onda, é como se ela me puxasse com força e eu ficasse me debatendo na água em vão, porque a onda é muito mais violenta do que eu. Como se não houvesse nada que eu pudesse fazer.
ELAS: são amigas desde a adolescência e casaram com dois grandes amigos. Então elas tem histórias comuns antes da vida de casadas. Perfis bem diferentes: uma arquiteta, mãe de dois filhos, devota ao marido. A outra trabalha no mundo da moda, trabalha e viaja loucamente (sorte dela ter o marido que tem, pois o meu marido já teria pedido para eu sair desse ritmo profissional insano) e ainda não teve tempo de pensar em ter filho porque ela passa quase 3 meses do ano viajando, além de trabalhar aos sábados, domingos e alguns feriados.
Além da amizade de longa data o que elas têm em comum é a OBSTINAÇÃO POR MAGREZA. Logo que as conheci, eu me senti aliviada ao ver que eu não era a única a perder tanto tempo com esse tipo de preocupação. Mas hoje eu fico incomodada quando o assunto é esse. Elas sempre falam disso e quanto mais o papo segue, mais gorda eu me sinto, mais eu me cobro e mais eu penso em regime, dieta, ginástica.... Vale a ressalva de que elas são mais radicais do que eu, porque não só querem emagrecer (já sendo magérrimas), como tomam remédio para isso - como quem toma um cafezinho depois do almoço. Elas tomam remédio há anos, não se incomodam, não acham arriscado e "seguirão tomando" (palavras delas), desde que continuem comendo e se mantenham magras.
Pois bem, estávamos conversando sobre tudo. Até que a A. comentou que engordou muito nesse útimo mês. Eu olhei para ela e vi aquele rosto esqualido na minha frente, vi a bochecha para dentro, os olhos saltados, os ossos do ombro aparentes e uma silhueta fina. Eu queria chorar! Na mesma hora eu me olhei, vi uma bochecha enorme (já tenho o rosto redondo), vi minha barriga sendo apertada pela calça jeans (na época da magreza, a mesma calça caía)... No mesmo momento a D, que trabalha com moda e é outra vara-pau, fala:
" Eu também. Ai gente, trabalhando desse jeito não dá. Eu não tenho tempo de fazer ginástica, minha vida é sempre uma loucura. Eu preciso perder aqueles 3 quilinhos básicos, que com remédio eu perderia em uma semana. Mas como estou querendo engravidar, não posso tomar nada agora."
Através de um contato da D. eu consegui comprar, certa vez, um remédio com um cara chamado Ricardão (para não citar o nome real ). Ele manipula qualquer fórmula, sem prescrição médica e cobra uma um bom dinheiro por isso. Ele tem cliente que não acaba mais. Eu tomei o remédio por um tempo, mas estava morrendo de medo. E se aquilo fosse qualquer outra substância?! Eu nem vi o cara. Você manda o pedido por email e ele manda entregar na sua casa depois de receber a transferência do dinheiro. Alias, se você não sabe o que tomar, ele te recomenda por telefone mesmo.
"você quer alguma coisa forte, média ou é iniciante?" e continua
"pode deixar comigo que não tem erro. Você vai gostar do resultado e vai me pedir mais." Desencanei dessa historia de remédio (apesar de eu ter emagrecido) e tento fechar a boca e fazer
mais ginástica.
Então veja no que essa neurose pela magreza resulta:
- A D. compra remédios de um cara totalmente na ilegalidade.
- A A. que toma remédios desde sempre, vai a um médico (um louco) que cobra a consulta e passa qualquer fórmula que a paciente quiser, na quantidade máxima permitida pelas autoridades médicas. Ela tem como efeito colateral ataque cardia, sede, insonia, respiração ofegante, mas acha que tudo vale a pena, afinal está magra.
continuação:
Aquele assunto todo estava me incomodando de uma maneira que ninguém poderia imaginar. Comecei a me perguntar (de novo!!!): se eu quero tanto emagrecer, porque eu não vou a esses médicos, tomo logo essas coisas e pronto? se eu quero emagrecer porque eu não fecho minha boca de verdade e paro de comer? Por que eu não consigo sair com meu marido, ou com minhas amigas e relaxar? Por que eu penso nisso em emagrecer o tempo todo?
A conversa sobre regime durou uns 5 minutos e foi tempo mais que suficiente para eu me "desligar" de todos os outros assuntos que viriam pela noite. Eu, de novo, só pensava no quanto eu quero emagrecer. Alias, tanto é verdade que eu continuo pensando nisso agora, dia seguinte.
Outro ponto que me deixa "doente": dado que eu sou tão preocupada com a minha aparência (na verdade com minha magreza), como já era mais de 23 horas eu pedi uma saladinha para comer. No cardápio havia pratos deliciosos, eu queria comer todos, experimentar tudo, mas pedi uma saladinha. Todos à mesa comiam cordeiro, carne, massa, degustavam cada garfada. E eu com muito esforço me concentrei na minha saladinha (que estava divina, mas era um prato bem menor do que o dos outros e obviamente menos vistoso). O que eu quero dizer aqui é que, de alguma maneira, eu tento me controlar para conseguir chegar a forma física que eu tanto almejo. E as minhas colegas, magérrimas, tomadoras de remdio, estavam comendo massa e carne sem o menor peso na consciencia. Nao é justo. Eu lá com minha saladinha e elas com massa, às 23 horas, depois de várias fatias de pão e ainda assim muito mais magras do que eu.... ninguém pode imaginar o quanto eu sofro com isso. Não bastasse, elas ainda pediram sobremesa... e eu ali, só olhando....
Desculpem-me pelo desabafo! Eu não quero cair na tentação dos remédios "milagrosos", mas quero mais do que tudo emgracer. Sei que é um pensamento fútil, sei que isso não é um problema, me sinto mal por me incomodar tanto com esse tipo de coisa...